Trago-te, verde o poema,
ele não diz nada –
não responde à nossas filosofias
e é incoerente, ineficaz, inexistente
aos nossos combates e bandeiras brancas.
Quando entendemos o poema verde,
o que não saiu do livro,
nunca fora escrito
ou mal acabado, interminado,
pensaremos os versos mais lidos,
os versos mais humanos
contudo, seu conteúdo mais poético...
Espero que apreciem a maturidade deste poema...Spartak DC
7 comentários:
Há uma chave para desvendar este poema. Um poema eu considero ser de uma intensa ironia. Mas essa chave curiosamente não está no poema, mas apenas referenciada nele de modo indirecto. É uma pista que se lança ao leitor, mas apenas ao leitor mais interessado - um leitor de segundo nível, que ignora o tom superficial leve das palavras e se interessa pelo conteúdo escondido das intenções.
Faz-me lembrar as famosas hipálages do Cesário Verde quando ele dizia "amareladamente os cães parecem lobos". Como eu gosto de boa poesia.
Permita-me discordar caro Nuno. Cesário Verde era um sacana desgraçado com poesia pouco púdica e nada acrescentou. Mais lhe digo que esse senhor que já morreu e bem deveria estar hoje envergonhado do que fez na vida, ou seja, nada mais do que lamúrios e constatações levianas do seu ser sem qualquer interesse social...
Finalmente uma tertúlia com pessoas que têm vocabulário sificiente para não se esconderem sob capas trussardi, marlboro ou giovanni galli. E realmente Cesário deveria ter continuado a pesar pregos, como fez em jovem.
O problema dos génios é sempre este dualismo na interpretação das suas atitudes, comportamentos e juízos. Cesário não era um simples sacana, ao contrário do que se pensa era bem maduro, experiente e que deu grandes passos na sua vida através de pequenos gestos. Qual Torga vivia com os pés enterrados no pó dos campos e cheirava o crescer da erva. A desconstrução da estrutura fonética e gráfica dos seus poemas mostra que os lamúrios referidos deviam antes ser uma referência para uma sociedade à deriva e que não sabe interiorizar, interpretar e aprender com o suor dos outros. Enfim, deixem-no respirar ... como "as flores do verde pino"
Ai Deus i o é...disse esse senhor verde, dos fundos do seu corpo inapto para a pratica desportivo com os seus amigos de bairro. Despertou para a sua poesia pouco ortodoxa e tribal fruto dessa incapacidade de acompanhar os seu pujantes vizinhos. Logo se constata que o sr. verde é um frustado melancolicamente enraivecido, qual touro no ringue...
Esse comportamento insipiente e prosaico em nada mancha uma latitude de pensamento e escrita séria e convicta. A frustração deriva do facto de se sentir um peixe (por sinal um "verdinho") fora de água num universo mutante, sem rumo e que abafa os companheiros com visão. A sociedade corrompeu-o, e apoderou-se dos seus vícios, dos ópios, dos "ácidos". Nunca um touro enraivecido, mas sim um touro desprezado e impotente perante dez Bastinhas na arena.
"Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos. "
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